terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A RODA DAS PROXIMIDADES




Nas "rodas" nas quais a vida se incumbe de reunir os afins,  numa dessas rodas, pela constância nela de certa pessoa,  inadvertida e impulsivamente (por romantismo talvez) coloquei o coração numa bandeja. Ofereci-o sem pudor algum: "Tenho-te carinho de irmã". A resposta veio-lhe no sorriso zombeteiro que, matreiro, escapou-lhe da alma. Fingi não o perceber; contudo, seguiu-se lhe a expressão do olhar (que sabia como ninguém manter velado, de modo a resguardar-se de ter expostas as emoções verdadeiras).
Acredite no que te vou dizer: às vezes, vejo a alma das pessoas. Vi (também, na filha sangue do seu sangue, que nos estava próxima) o tanto  de   descrença e de desconfiança que depositou nas palavras ditas com tanto sentimento.
Sofri um pouco do sofrimento dos românticos que, anseiam por dividir-se! Mas, também lhes tive dó, à  aridez das suas almas! 
Mantenho-me romântica, estado que aprecio; porém, abstenho-me de apregoar o tamanho dos meus sentimentos. 
Nestes tempos natalinos, no entanto, quando os sentimentos bons nos afloram à alma, recaio no velho hábito. Digo aos amigos queridos (aqueles que em tendo lhes aberto as portas da minha alma, por ela entraram confiantes): "Ofereço-vos  a minha gratidão e sincero bem-querer. Agradeço aos céus o terem cruzado o meu caminho".
A todos (aos que saíram da "roda" e aos que continuam nela), desejo um Natal de luz e de paz, com o Rei (Jesus) no coração. À Vera.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O MENINO ERÊ




Joãozinho ginga e se remexe, e saracoteia e serpenteia _  no movimento intermitente é que confunde as gentes: o que os olhos veem? Um ser articulado movido a pilhas alcalinas? Será um bailarino, esse menino?...
Ele quando gira nos magnetiza, então, quais adultos feito bobos à própria rigidez, sob o seu comando, mantem-nos todos: estalasse os dedos à nossa frente, e a vida nem nos pesaria!...
Joãozinho é mágico, mas, por puro equívoco, cremo-nos a conduzi-lo quando no rodopio, e, à travessura, em meio às gentes, vê-se lhe o esbarrar dos braços cor de mate, noutros braços pequeninos quais os seus _ fá-lo, propositadamente. Também as pernas, diminutos gravetos, movimentam-se rumo às outras pernas, deliberadamente. 
Ouve-se, então, um grito ressentido, apoquentado:
_ Pára, Joãozinho, moleque atentado!...
Ele nos sorri, um riso articulado, que lhe põe à mostra os dentes pequeninos, de bichinho novo, recém desmamado...  Ao nosso equívoco, à nossa ignorância, dizemos aos que nos podem ouvir: "convém não sorrir, pra não dar confiança. É preciso mostrar autoridade".
O menino Joãozinho, de brinquinho na orelha e cabelo liso que só (apesar da pele escura cor de mate), cortado rente ao casco da cabeça, num corte moderninho, é tatibitate.
Vimo-lo, certa vez, arrastar-se feito bicho pelo chão: como um lagarto, um jacaré, uma cobra talvez! 
Desconfiada à sua cor de mate, ao cabelo espetado, ao jeito espevitado de menino encantado, disse-o, às gentes: o Erê está aqui à nossa frente!...
Como me convinha, servi-me da inusitada descoberta para, às travessuras, valer-me da estratégia de olhá-lo bem nos olhos (tenho lá minhas mandingas!...). Ele apercebeu-se de mim, no que nos tornamos  unidos na magia.
O menino Joãozinho, de inteligência arguta, metro e pouco de altura e constante bailado, mesmo descoberto, mantém-nos encantados.
Ao abraço fortuito que vez por outra nos oferece, ao incerto amanhã, rogamos em prece:
_ Senhor Deus, proteja esse menino. Dá-lhe um bom destino (ao menino, que o Erê disto não carece)!...